Cancro da mama ? Um projeto destinado a otimizar

Projeto Cinderella quer que espelho deixe de ser problema

A Fundação Champalimaud e a Comissão Europeia assinaram um acordo no valor de cinco milhões de euros que serão aplicados num projeto de inteligência artificial para melhorar a relação com o corpo das mulheres submetidas a mastectomias.

O protocolo que formaliza o projeto Cinderella foi assinado no dia 23 de maio e as verbas serão disponibilizadas ao longo dos próximos quatro anos, correspondentes à duração do projeto, com arranque oficial marcado para 01 de junho, adianta a Fundação Champalimaud em comunicado.

“Um projeto destinado a otimizar, de forma personalizada, a previsão dos resultados das cirurgias reconstrutivas em doentes com cancro da mama — de forma a melhorar a satisfação destas mulheres em relação à sua imagem corporal após a cirurgia –, vai receber cinco milhões de euros do Programa Horizonte Saúde 2021 da Comissão Europeia”, refere o documento.

Maria João Cardoso, coordenadora do projeto e coordenadora da Unidade da Mama da Fundação Champalimaud, citada no comunicado, defende que “os aspetos estéticos da cirurgia oncológica da mama já não podiam ser ignorados”.

“A saúde psicológica e a qualidade de vida das doentes estavam em causa e importava tê-los em conta. Estava na altura de falar de beleza às doentes. De facto, hoje não há razão para que quem sobrevive ao cancro da mama não possa também, com conhecimento de causa, optar pela cirurgia que melhor irá preservar — e até melhorar — a sua imagem corporal”, lê-se no documento.

Uma escolha esclarecida face às múltiplas cirurgias pelas quais as doentes podem optar e uma gestão realista das expectativas quanto aos resultados estéticos da reconstrução são as questões às quais o projeto Cinderella pretende dar resposta com o uso de um algoritmo melhorado.

Esse algoritmo, desenvolvido em colaboração com o INESC TEC, no Porto, tem capacidade de “aprendizagem profunda” e vai produzir imagens de possíveis resultados estéticos das cirurgias tendo por base informação personalizada da doente, nomeadamente as suas características físicas, uma base de dados de fotografias pré e pós-cirurgia, e os resultados de questionários de satisfação das doentes sobre os resultados estéticos dos procedimentos a que foram submetidas.

“O projeto Cinderella consiste essencialmente em passar para uma plataforma de saúde existente na web, a CANKADO [..] toda a informação sobre os diferentes tipos de cirurgias possíveis e todos os questionários de qualidade. A CANKADO irá articular-se com o repositório de imagens e o algoritmo de inteligência artificial”, explica o comunicado.

O passo seguinte será um “grande ensaio clínico”, no qual as doentes serão divididas em dois grupos: um de pacientes que tomará decisões sobre a cirurgia que pretende com base na informação produzida exclusivamente pela inteligência artificial, e um segundo grupo de pacientes num “grupo de controlo”, que vai receber informação e tomar decisões de forma convencional.

“As doentes submetidas a cirurgias mamárias nos cinco centros participantes — a Fundação Champalimaud, o Hospital San Raffaele em Milão, o Hospital Universitário de Heidelberg, o Hospital Universitário de Gdansk e o Centro Médico Sheba Tel Hashomer, perto de Telavive — serão previamente divididas aleatoriamente em dois grupos, cada um dos quais utilizará um desses dois procedimentos”, adianta a fundação sobre o ensaio clínico.

Para quem recorrer aos métodos convencionais, apenas poderá tomar decisões com base em resultados estéticos de intervenções semelhantes às que pretendem realizar. Para as doentes que recorrerem à aplicação com inteligência artificial, a previsão do resultado será adaptada às suas características físicas.

Maria João Cardoso salienta que “em vez de ser baseada numa reunião com o cirurgião e com uma enfermeira, as doentes com acesso à ‘app’ poderão mostrar as previsões mais realistas para cada cirurgia aos seus próximos e discutir com eles a melhor opção” o que “permite um maior empoderamento não apenas das doentes, mas, se elas assim o desejarem, de outras pessoas por elas escolhidas”.

O projeto contempla ainda uma evolução na captação de fotografias, que será também automatizada e “dentro de uns meses” chegará à Fundação Champalimaud o ‘Pink’, o robô médico desenvolvido para o efeito.

“Se o projeto Cinderella mostrar que este procedimento automatizado funciona, resultando num maior grau de satisfação das mulheres, esse será um grande primeiro passo no sentido de permitir que as mulheres que vão ser operadas a um cancro da mama façam uma escolha realmente informada e personalizada da sua cirurgia, aumentando as suas hipóteses de gostar do que veem no espelho”, conclui o comunicado.


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